Em 1945, a Europa imperial cedeu a supremacia de suas colônias aos Estados Unidos e à União Soviética. Qual seria o lugar reservado ao chamado Terceiro Mundo? Esta foi a grande pergunta levantada na Conferência de Bandung, em 1955. 

Em 1989, as Nações Unidas reconheceram duzentos e quatro países, cada um com sua bandeira, seu hino e sua independência. Mas, isso era tudo o que havia de comum entre eles: oitenta e cinco destes países enfrentavam problemas dramáticos. Evidentemente, os países ricos não são imunes a crises... não raro, das mais terríveis. Apesar da pobreza que aumenta e da miséria que ainda sobrevive nas nações industrializadas do hemisfério norte, a expectativa de vida, nestas regiões, ainda é de setenta anos. Em outras áreas, nos países em desenvolvimento, no hemisfério sul, não chega a cinqüenta anos. O padrão de vida no norte é cem vezes superior ao do sul. O conforto material, sem dúvida alguma, é um dos fatores que influenciam a média de longevidade, mas há muito tempo o bem-estar de alguns vem sendo obtido às custas do sacrifício dos outros.

Durante séculos, muitos dos países do sul foram colônias de algumas potências do norte. E, durante todo este tempo, foi preciso empregar a força, várias vezes, para controlar o ímpeto popular em seu anseio por autodeterminação. Sofrendo sob a dominação não apenas econômica, os países do sul, não raras vezes, tiveram também de enfrentar o racismo e o medo de seus senhores. Certa vez, uma voluntária, perguntada por que amava a África e se desejava ajudar o povo, respondeu que desejava ajudar os europeus, porque os negros "não valiam o sacrifício". Esta opinião, mais ou menos generalizada, comprometeu em grande parte os resultados da grande conferência entre países do norte e do sul.

Em 18 de abril de 1955, em Bandung, na Indonésia, reuniram-se, numa conferência internacional, vinte e nove países da Ásia e da África. Era a primeira vez que se reuniam. O primeiro-ministro da Índia, Nehru, que combatera, ao lado de Gandhi, a dominação inglesa, estava presente, ao lado do presidente Nasser, do Egito, de Chou En Lai, premiê da República Popular da China, do imperador Haile Salassié, da Etiópia, e dos reis do Marrocos e do Cambodja, entre outros. Alguns tinham um passado de revolucionário, mas todos estavam reunidos em Bandung para se lançar à guerra contra o subdesenvolvimento. Evidentemente, condenaram o racismo e a dominação colonial. Mas, o Ocidente não entendeu com clareza a mensagem enviada de Bandung. 

Do palanque, Chou En Lai fez acenos na direção dos Estados Unidos. Em nome dos vinte e nove países presentes à conferência, ele propôs aos americanos uma declaração de co-existência pacífica, de igualdade racial e de reconhecimento ao direito de soberania de todas as nações. Os americanos recusaram o convite. O Ocidente deixou passar, sem saber aproveitar, a primeira oportunidade de diálogo com o Terceiro Mundo.